Biblioteca de Ferreira do Zêzere

Um espaço da biblioteca em que pretendemos oferecer notações diárias de situações, notícias, poemas, obras de arte, atenções diversas e principalmente links que nos pareçam interessantes e que possam dar uma informação e acesso fácil aos nossos visitantes. Esperamos poder vir a contar com a colaboração dos nossos utilizadores ou de todos os que na blogosfera nos entendam contactar.

Tuesday, June 28, 2005

WENCESLAU JOSÉ DE SOUSA MORAES

EXPOSIÇÃO NA BIBLIOTECA

1854 – 1929

Wenceslau José de Sousa Moraes nasceu na cidade de Lisboa a 30 de Maio de 1854, na Travessa da Cruz do Torel nº 4, 2º andar, completam-se agora 150 anos.
Cidadão português, ex-capitão-de-fragata da Armada Portuguesa, assim se identificou no seu testamento "Moraes O-Okinasô “.
De facto a sua vida, marcada por uma enorme solidão, oscila sensualmente entre uma insaciável carência afectiva e uma indomável ânsia de liberdade, que romances sem saída possível o levam a abertamente admitir, na sua correspondência mais privada, uma personalidade assaz complexa que de todo escapa aos que com ele conviveram ao longo de uma carreira naval de 26 anos.

Exposição na Biblioteca até dia 4 de Julho de 2005

Saturday, June 25, 2005



Enfim...Dave!



A comemorar 25 anos de carreira, os britânicos Depeche Mode voltam a actuar em Portugal, a 8 de Fevereiro de 2006, no Pavilhão Atlântico.

Doze anos depois da última passagem por Portugal, os fãs acérrimos poderão rever a banda liderada pelo espectacular Dave Gahan e ouvir temas como "Personal Jesus", "Just Cant Get Enough" ou "Enjoy The Silence".

A banda, que edita novo álbum em Outubro, revelou numa conferência de imprensa em Dusseldorf, na Alemanha, as datas da nova digressão europeia, em 2006, na qual Lisboa está incluída. A digressão arranca a 13 de Janeiro na Alemanha e inclui as principais cidades europeias, para além de São Petersburgo e Moscovo, na Rússia.

Poemas e desenhos de Eugénio






"O Museu Nacional da Imprensa (MNI), no Porto, anunciou esta sexta-feira que vai oferecer a partir de sábado zincogravuras de um desenho original do escultor José Rodrigues em homenagem ao poeta Eugénio de Andrade, falecido dia 13 passado.

As zincogravuras vão poder ser impressas manualmente pelos visitantes da exposição alusiva a Eugénio de Andrade que o MNI tem patente de 18 a 30 de Junho, recordando a visita do poeta àquele museu, em 1999, para o lançamento do livro «Sulcos e Poemas».

Até ao final de Junho, os visitantes poderão também imprimir manualmente poemas de Eugénio de Andrade nas máquinas tipográficas expostas naquele museu.

Para complementar a homenagem, estará patente uma pequena mostra com fotografias e jornais, e os visitantes poderão ver ainda imagens em vídeo da presença de Eugénio de Andrade no Museu, com o Presidente da República, Jorge Sampaio.

O livro «Sulcos e Poemas» foi lançado no Museu da Imprensa em Outubro de 1999, numa sessão solene que contou com a presença de Jorge Sampaio.

A obra é composta por nove poemas de Eugénio de Andrade, acompanhados de igual número de desenhos do artista plástico José Rodrigues.

O MNI está instalado junto ao Rio Douro, a montante da Ponte do Freixo, encontrando-se aberto ao público todos os dias, incluindo feriados, entre as 15 e as 20 horas."


in:
http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=553072&div_id=291

Friday, June 24, 2005

Colete retro-reflector




COLETE RETRO-REFLECTOR OBRIGATÓRIO A PARTIR DE SEGUNDA-FEIRA

"A obrigação de ter e usar o colete retro-reflector só entra em vigor na próxima segunda-feira, dia 27, segundo a Direcção-Geral de Viação (DGV). A primeira data adiantada pela DGV para o início da aplicação da medida era a partir da meia-noite de ontem, prazo em que terminaria os 90 dias previstos pela data de publicação da legislação. No entanto, o suplemento do Código da Estrada terá sido distribuído alguns dias mais tarde e foi a partir dessa data que se contabilizaram os 90 dias previstos para a obrigatoriedade de ter o colete entrar em vigor."

in:
www.otemplario.pt

S. João do Porto




Festas da Cidade

"A cidade feita cascata humana que ondula pelas ruas num marulhar de apitos e risos, de danças que se demoram, ou não, em cada baile popular, para seguir viagem madrugada fora. O S. João do Porto, celebração que sempre espanta quem vem de novo, manda que se receba o Verão em folia, saltando a fogueira para queimar as sombras, deixando de lado preocupações numa verdadeira festa (quase) sem fim. O programa, organizado pela Câmara Municipal, tem tradições que não se dispensam, desde as regatas aos concursos de montras, das músicas ao fogo de artifício. Para durar e aproveitar Junho fora."
in:

Thursday, June 23, 2005

Blasted Mechanism

Beck e Blasted Mechanism são cabeças-de-cartaz no Ermal



Festival para todos os gostos, reúne vários géneros musicais

"O músico norte-americano Beck, o colectivo reggae italiano One Love High Pawa e os portugueses Blasted Mechanism são os cabeças-de-cartaz do Festival Ilha do Ermal, que decorre neste fim-de-semana em Vieira do Minho, Braga.

Este fim-de-semana, Ermal vai receber ao longo de três dias, algumas das melhores bandas nacionais e internacionais.

O evento quer chegar a todos os públicos, por isso vai apresentar propostas que variam entre o rock, o heavy metal, a pop e a música jamaicana.

O primeiro dia do festival começa e acaba com artistas portugueses, os Blacksunrise, os Painstruck e os Blasted Mechanism, que têm estado a apresentar ao vivo o álbum "Avatara".

Entre as três bandas nacionais estão previstas as actuações dos Clawfinger, Entombed, Grave e Unleashed, quatro bandas heavy metal da Suécia, e os norte-americanos Morbid Angel, que completaram em 2004 vinte anos de carreira.

No sábado, os sons pesados do metal dão lugar ao reggae e às ramificações das sonoridades da Jamaica, com nomes como Jahman Levi, The Wailers, eternamente conotados a Bob Marley, e Capleton, a par do californiano John Butler, em formato trio, e dos italianos One Love High Pawa.

No domingo, no fecho do festival, estão previstas as actuações do músico da cena electrónica britânica Dizzee Rascal e os portugueses Plaza, The Gift e Da Weasel, que acabam de atingir a marca da tripla platina (60 mil unidades vendidas) com "Redefinições".

A noite de domingo encerra com o músico norte-americano Beck, de regresso a Portugal com "Guero", o mais recente trabalho editado em Março, no final de uma série de concertos pela Europa e antes de um regresso aos Estados Unidos.

Os bilhetes de um dia para o Festival Ilha do Ermal custam 25 euros e o passe para três dias 45 euros, dando direito a campismo gratuito."



in: http://sic.sapo.pt/online/noticias/cartaz/20050623Beck+e+Blasted+Mechanism.htm

Um novo desafio



António Guterres tomou esta quarta-feira posse como Alto Comissário da ONU para os Refugiados.


A entrada no edifício marcou de forma simbólica a tomada de posse do ex-primeiro-ministro, nomeado a 24 de Maio como responsável máximo daquela que tem sido a organização internacional que mais conflitos mundiais acompanhou ao longo das últimas décadas.

A sua primeira acção no estrangeiro ocorre já na próxima semana, por ocasião do Dia Mundial do Refugiado.


by P.B.

AMOR!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Luís Vaz de Camões



Amor é fogo que arde sem se ver


Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

Regras e Conselhos de Segurança

Por se considerar que nunca é demais alertar os banhistas para os cuidados a ter nas praias, indicam-se, de seguida, algumas regras e recomendações, que devem ser tidas em conta pelos utentes dos espaços balneares de modo a evitar a ocorrência de acidentes.
Regras de Segurança
Frequente praias vigiadas
Respeite os sinais das bandeiras
Respeite as instruções dos Nadadores Salvadores
Evite tomar banho antes de decorridas as 3 horas após as refeições
Nunca nade contra a corrente
Ao nadar não se afaste demasiado, nade paralelamente à costa

Recomendações
Vigie atenta e permanentemente e de distância próxima as suas crianças
Após longos períodos de exposição ao sol não entre de repente na água
Procure nadar acompanhado
Em caso de aflição não hesite em pedir imediatamente socorro
Nunca efectue saltos para a água a não ser em local vigiado e especialmente destinado a esse efeito.

As estas recomendações junta-se a necessidade de os banhistas recolherem informações sobre as praias que frequentam, nomeadamente, correntes, rochas, fundões e zonas de perigo.

Recomendações Preventivas da Doença Súbita
Evite o choque térmico molhando-se progressivamente.
Respeite um intervalo de 3 horas após uma refeição normal antes de tomar banho.
Previna a desidratação e a hipoglicémia pela ingestão espaçada de frutas, bebidas não alcoólicas e alimentos ligeiros.
Nunca tome banho e/ou nade sob o efeito (ou ressaca) de drogas ou álcool.
Consulte o seu médico sobre cuidados específicos a observar em caso de doença crónica, convalescença de acidente ou doença recente e toma de medicamentos.

Siginificado do Código de Sinais das Bandeiras
Bandeira VERDE: Boas condições para a prática de banhos e natação assumindo as regras e recomendações de segurança.
Bandeira AMARELA: Condições perigosas para prática de natação. Condições aceitáveis para banhos assumindo as regras e recomendações de segurança.
Bandeira VERMELHA: Prática de natação e banhos perigosas. A simples permanência próximo da linha de água poderá representar risco elevado.
Bandeira XADREZ: Praia temporariamente sem vigilância.

Thursday, June 16, 2005

Nélida Piñón vence Prémio Príncipe das Astúrias



A escritora brasileira Nélida Piñón, 68 anos, foi ontem galardoada com o Prémio Príncipe das Astúrias das Letras 2005.

Aplaudida pela crítica como uma das mais destacadas escritoras do Brasil, Nélida Piñón tem obra publicada em mais de 20 países.

Começa a escrever aos dez anos de idade e consagrou-se em 1961 com a publicação do romance "Guia Mapa de Gabriel Arcanjo".

Da sua autoria, destacam-se os títulos "Tempo das Frutas" (1966), "Fundador" (1969), "A casa da Paixão" (1972), "Sala de Armas (1973), "A República dos sonhos" (1984), "O Presumível Coração da América" (2002) e mais recentemente "Vozes do Deserto (2004).

A vencedora disputou o prémio com outros candidatos como os norte-americanos Paul Auster e Philip Roth e o israelita Amos Oz.

Nélida Piñon, nascida no Rio de Janeiro em 1937, formou-se em Jornalismo e foi a primeira mulher a presidir à Academia Brasileira de Letras entre 1996 e 1997, tendo recebido em 1995 o Prémio Internacional de Literatura Juan Rulfo, concedido nesse ano pela primeira vez a uma mulher e a um autor de língua portuguesa.

Ao Prémio Príncipe das Astúrias das Letras 2005 apresentaram- se 31 candidaturas de 16 países.

Foram já distinguidos com o prémio Mario Vargas Llosa, Günter Grass, Camilo José Cela, Alvaro Mutis, Juan Rulfo, Carlos Fuentes, Augusto Monterroso, Doris Lessing, Susan Sontang e Claudio Magris, entre outros escritores.

Tuesday, June 14, 2005

Morte de Cunhal encerra um tempo histórico



"A doença afastou-o da vida pública há já alguns anos, mas o país político nunca conseguiu esquecê-lo. O coração de Álvaro Cunhal parou de bater na madrugada de ontem. Tinha 91.
A morte de um dos homens mais controversos da história nacional, reconhecido internacionalmente pela sua incansável luta contra a ditadura e por ter sido um dos mais destacados dirigente do Movimento Comunista Internacional, cobriu de luto o país comunista. Foi amado por uns e detestado por outros, mas é incontestável a importância que teve como líder político (na clandestinidade e no pós-25 de Abril) e resistente antifascista.
O corpo de Álvaro Cunhal estará em câmara-ardente a partir das 15h30 de hoje no Centro de Trabalho Vitória, na Avenida da Liberdade, em Lisboa. O funeral acontece amanhã, às 16h00, e partirá para o Cemitério do Alto de São João, onde será realizada uma cerimónia de cremação. A partir da Praça do Chile, pelas 16h30, o percurso será feito a pé."
in:
Público, 14 de junho 2005
Maria José Oliveira
Biografia de Álvaro Cunhal:

Eugénio de Andrade

Também para crianças,


Frutos

Pêssegos, peras, laranjas,
morangos, cerejas, figos,
maçãs, melão, melancia,
ó música de meus sentidos,
pura delícia da língua;
deixai-me agora falar
do fruto que me fascina,
pelo sabor, pela cor,
pelo aroma das sílabas:
tangerina, tangerina.


Eugénio de Andrade

de Eugénio de Andrade, sal da nossa língua

"...Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua."



EROS

Nunca o verão se demorara
assim nos lábio
se na água
- como podíamos morrer,
tão próximos
e nus e inocentes?

(MAR DE SETEMBRO)



O SORRISO

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

(O OUTRO NOME DA TERRA)



Frutos

Pêssegos, peras, laranjas,
morangos, cerejas, figos,
maçãs, melão, melancia,
ó música de meus sentidos,
pura delícia da língua;
deixai-me agora falar
do fruto que me fascina,
pelo sabor, pela cor,
pelo aroma das sílabas:
tangerina, tangerina.



AS MAÇÃS

Também ele vai morrer, o verão.
Do verde ao vermelho
as maçãs ardem sobre a mesa.
Ardem de uma luz sua, mais madura.
E servem-me de espelho.

(HOSPITAL DE SANTO ANTÓNIO, 21.7.2002)



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Morreu Eugénio de Andrade



O poeta Eugénio de Andrade morreu ontem, no Porto, aos 82 anos, vítima de doença prolongada.

Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, nasceu a 19 de Janeiro de 1923 na Póvoa de Atalaia, Fundão, região da Beira Baixa, fixando-se em Lisboa em 1932.

Viveu no Porto desde 1950, onde criou a fundação com o seu nome.

A sua obra poética e em prosa foi já inúmeras vezes premiada e está traduzida para alemão, asturiano, castelhano, catalão, chinês, francês, italiano, inglês, jugoslavo e russo.


Infelizmente na Biblioteca, não temos nada de Eugénio de Andrade. Não tem havido possibilidade de adquirir, mas para informações sobre o escritor e poeta poderá consultar-se o seguinte endereço:

http://www.fundacaoeugenioandrade.pt/index3.htm

Wednesday, June 08, 2005

e agora... Santo António!

Extracto do Sermão de S. António de 1642, do Padre António Vieira, pregado na Igreja das Chagas.
Faz 363 anos dia 13.
O que mudou nestes 363 anos, que o possa desactualizar...
Mas perguntar-me-á alguém, ou perguntara eu a Santo António:
- Que remédio teremos nós para remediar os remédios? – Muito fácil, diz Santo António: Vos estis sal terra. Para se curar uma enfermidade, vê-se em que peca a enfermidade; para se curarem os remédios, veja-se em que pecaram os remédios. Os remédios, como diz a queixa pública, pecaram na violência; muitos arbítrios, mas violentos muito. Pois modere-se a violência com a suavidade, ficarão os remédios remediados. Foram ineficazes os tributos por violentos; sejam suaves, e serão efectivos. Vos estis sal terra: Duas propriedades tem o sal, diz aqui Santo Hilário; conserva, e mais tempera: é o antídoto da corrupção e lisonja do gosto; é o preservativo dos preservativos e o sabor dos sabores: Sal incorruptionem corporibus, quibus fuerit aspersus, impertit, et ad omnem sensumconditi saporis aptissimus est. Tais como isto devem ser os remédios com que se hão-de conservar as repúblicas. Conservativos sim, mas desabridos não. Obrar a conservação e saborear, ou ao menos não ofender o gosto, é o primor dos remédios. Não tem bons efeitos o sal, quando aquilo se salga fica sentido. De tal maneira se há-de conseguir a conservação, que se escuse quanto for possível o sentimento. Tirou Deus uma costa a Adão para a fábrica de Eva; mas como a tirou? – Immisit Deus soporem in Adam, diz o texto sagrado. Fez Deus adormecer Adão, e , assim dormindo, lhe tirou a costa.
Pois por que razão dormindo, e não acordado? – Disse-o advertidamente o nosso português Oleastro, e é o pensamento tão tirado da costa de Adão, como das entranhas dos portugueses: Ostendit, quam difficile sit ab homine auferre, quod etiam in ejus cedit utilitatem: quam ob rem opus est ab eo surripere, quod ipse concedere negligit. A costa de que se havia de formar Eva, tirou-a Deus a Adão dormindo e não acordado, para mostrar quão dificultosamente se tira aos homens, e com quanta suavidade se deve tirar, ainda o que é para seu proveito. Da criação e fábrica de Eva dependia não menos que a conservação e propagação do género humano; mas repugnam tanto os homens a deixar arrancar de si aquilo que se lhes tem convertido em carne e sangue, ainda que seja para bem de sua casa e de seus filhos, que por isso traçou Deus tirar a costa a Adão, não acordado, senão dormindo; adormeceu-lhe os sentidos, para lhe escusar o sentimento. Com tanta suavidade como isto, se há-de tirar aos homens o que é necessário para sua conservação. Se é necessário para a conservação da pátria, tire-se a carne, tire-se o sangue, tirem-se os ossos, que assim é razão que seja; mas tire-se com tal modo, com tal indústria, com tal suavidade, que os homens não o sintam, nem quase o vejam. Deus tirou a costa a Adão, mas ele não o viu, nem o sentiu; e se soube, foi por revelação. Assim aconteceu aos bem governados vassalos do imperador Teodorico, dos quais por grande glória sua dizia ele: Sentimus auctas illationes, vos addita tributa nescitis: «Eu sei que há tributos, porque vejo as minhas rendas acrescentadas; vós não sabeis se os há, porque não sentis as vossas diminuídas». Razão é que por todas as vias se acuda à conservação; mas como somos compostos de carne e sangue, obre de tal maneira o racional, que tenha sempre respeito ao sensitivo. Tão ásperos podem ser os remédios, que seja menos feia a morte, que a saúde. Que importa a mim sarar do remédio, se hei-de morrer do tormento?
Divina doutrina nos deixou Cristo desta moderação na sujeita matéria dos tributos. Mandou Cristo a S. Pedro, que pagasse o tributo a César, e disse-lhe que fosse pescar, e que na boca do primeiro peixe acharia uma moeda de prata, com que pagasse. Duas ponderações demos a este lugar o dia passado; hoje lhe daremos sete a diferentes intentos. Se Deus faz milagres sem necessidade, porque o fez Cristo nesta ocasião, sendo ao parecer supérfluo? Pudera o Senhor dizer a Pedro, que fosse pescar, e que do preço que pescasse, pagaria o tributo, não do preço, senão da moeda que se achar na boca do peixe? – Quis o Senhor, que pagasse S. Pedro o tributo, e mais que lhe ficasse em casa o fruto do seu trabalho, que este é o suave modo de pagar tributos. Pague Pedro o tributo, sim, mas seja com tal suavidade e com tão pouco dispêndio seu, que satisfazendo às obrigações de tributário, não perca os interesses de pescador. Coma o seu peixe como dantes comia, e mais pague o tributo que dantes não pagava. Por isso tira a moeda não do preço, senão da boca do peixe: Aperto ore ejus, invenies staterem. Aperto ore: (Mat. XVII – 26). Notai. Da boca do peixe se tirou o dinheiro do tributo; porque é bem que para o tributo se tire da boca. Mas esta diferença há entre os tributos suaves e os violentos: que os suaves tiram-se da boca do peixe; os violentos, da boca do pescador. Hão se de tirar os tributos com tal traça, com tal indústria, com tal invenção, - Invenies staterem – que pareça o dinheiro achado e não perdido; dado por mercê da ventura e não tirado à força da violência. Assim o fez Deus com Adão; assim o fez Cristo com S. Pedro; e para que não diga alguém, que são milagres a nós impossíveis, assim o fez Teodorico com seus vassalos. A boa indústria é suplemento da omnipotência, e o que faz Deus por todo-poderoso, fazem os homens por muito industriosos.
Sim. Mas que indústria poderá haver para que os tributos se não sintam, para que sejam suaves e fáceis de levar? Que indústria? Vos estis sal terra. Não se mete Santo António a discursar arbítrios particulares, que seria coisa larga e menos própria deste lugar, posto que não dificultosa: um só meio aponta o Santo nestas palavras, que transcende universalmente por todos os que se arbitrarem, com que qualquer tributo, se for justo, será mais justo, e se fácil, muito mais fácil e mais suave: Vos estis sal terra. Nota aqui S. Crisóstomo a generalidade com que falou Cristo aos discípulos. Não lhes chamou sal de uma casa, ou de uma família, ou de uma cidade, ou de uma nação, senão sal de todo o mundo, sem exceptuar a ninguém. Vos estis sal terra, non pró una gente, sed pró universo mundo – comenta o santo padre. Queremos senhores, que o sal, qualquer que for, não seja desabrido? Queremos que os meios da conservação pareçam suaves? – Non pró una gente, sed pró universo mundo. Não sejam os remédios particulares, sejam universais; não carreguem os tributos somente sobre uns, carreguem sobre todos. Não se trata de salgar só um género de gente: Non pro una gente; reparte-se e alcance o sal a terra: Vos estis sal terra. Convida Cristo aos homens para a aceitação e observância de sua lei, e diz assim: Venite ad me omnes, qui laboratis et onerati estis et ego reficiam vos (Mat. XI – 28): «Vinde a mim todos, que tão cansados e molestados vos traz o mundo, e eu vos aliviarei»; Tollite jugum meum super vos, et invenietis requiem asnimabus vestris (Ibid. – 29): «Tomai o meu jugo sobre vós, e achareis descanso para a vida»; Jugum enim meum suave est et ónus meum leve (Ibid. – 30): «Porque o jugo de minha lei é suave e o peso dos meus preceitos é leve».
Ora se tomarmos bem o peso à Lei de Cristo, havemos de achar que tem alguns preceitos pesados, e, segundo a natureza, assaz violentos. Haver de amar aos inimigos; confessar um homem suas fraquezas a outro homem; bastar um pensamento para ofender gravemente a Deus e ir ao Inferno; estes e outros semelhantes preceitos não há dúvida que são pesados e dificultosos; e por tais os estimou o mesmo Senhor, quando lhes chamou cruz nossa: Tollat crucem suam, et sequatur me (Ibid. XVI – 24). Pois se os preceitos da lei de Cristo, ao menos alguns, são cruz pesada, como lhes chama o Senhor jugo suave e carga leve? Jugum enim meum suave est, et ónus meum leve?
Antes de o Senhor lhes chamar assim, já tinha dito a causa: Venite ad me omnes. A lei de Cristo é uma lei que se estende a todos com igualdade e que obriga a todos sem privilégio: ao grande e ao pequeno; ao alto e ao baixo; ao rico e ao pobre, a todos mede pela mesma medida. E como a lei é comum sem excepção de pessoas e igual sem diferença de preceito, modera-se tanto o pesado no comum e o violento no igual, que, ainda que a lei seja rigorosa, é jugo suave; ainda que tenha preceitos dificultosos, é carga leve: Jugum meum suave est, et ónus meum leve. É verdade que é jugo, é verdade que é peso, nem Cristo o nega; mas como é jugo que a todos iguala, o exemplo o faz suave; como é peso que sobre todos carrega, a companhia o faz leve. Clemente Alexandrino: Non pratergredienda est aqualitas, qua versatur in distributionibus honorando justitiam: propterea Dominus, tollite, inquit, jugum meum super vos, quia benignum est et leve.
O maior jugo de um reino, a mais pesada carga de uma república são os imoderados tributos. Se queremos que sejam leves, se queremos que sejam suaves, repartam-se por todos. Não há tributo mais pesado que o da morte, e contudo todos o pagam e ninguém se queixa, porque é tributo de todos. Se uns homens morreram e outros não, quem levara em paciência esta rigorosa pensão de imortalidade? Mas a mesma razão que a estende, a facilita; e porque não há privilegiados, não há queixosos. Imitem as resoluções políticas o governo natural do Criador: Qui solem suum oriri facit super bonos et malos, et pluit super justos et injustus (Mat. V – 45). Se amanhece o Sol a todos aquenta; e se chove o céu, a todos molha. Se toda a luz caíra a uma parte e toda a tempestade a outra, quem o sofrera?
Mas não sei que injusta condição é a deste elemento grosseiro em que vivemos, que as mesmas igualdades do céu, em chegando à terra, logo se desigualam. Chove o céu com aquela igualdade distributiva que vemos; mas em a água chegando à terra, os montes ficam enxutos e os vales afogando-se; os montes escoam o peso da água de si, e toda a força da corrente desce a alagar os vales. E queira Deus que não seja teatro de recreação para os que estão olhando do alto, ver nadar as cabanas dos pastores sobre os dilúvios de suas ruínas! Ora guardemo-nos de algum dilúvio universal, que, quando Deus iguala desigualdades, até os mais altos monts ficam debaixo da água. O que importa é que os montes se igualem com os vales, pois os montes são a quem principalmente ameaçam os raios; e reparta-se por todos o peso, para que fique leve a todos. Os mesmos animais de carga, se lha deitam toda a uma parte, caem com ela; e a muitos navios meteu nas mãos dos piratas a carga, não por muita, mas por descompassada. Se se repartir o peso com igualdade de justiça, todos o levarão com igualdade de ânimo: Nullus enim gravanter obtulit, quod cum aquitate persolvitur: Porque ninguém toma pesadamente o peso que se lhe distribui com igualdade – disse o político Cassiodoro.