Biblioteca de Ferreira do Zêzere

Um espaço da biblioteca em que pretendemos oferecer notações diárias de situações, notícias, poemas, obras de arte, atenções diversas e principalmente links que nos pareçam interessantes e que possam dar uma informação e acesso fácil aos nossos visitantes. Esperamos poder vir a contar com a colaboração dos nossos utilizadores ou de todos os que na blogosfera nos entendam contactar.

Saturday, May 28, 2005

O caro, o barato e o reles


"Uma stripper careca e desdentada, quilos de ursinhos de goma, dezenas de caixas de smarties donde foram retirados todos os smarties de cor castanha... - foram algumas das exigências apresentadas pelo senhor Warner ou Marilyn Manson, como se preferir chamar-lhe, à organização portuguesa do festival do Ermal em 2001."

"Nunca percebi como é que não se cora de vergonha quando se divulgam as listas de exigências dos ditos artistas, actuem eles em palcos alternativos ou sob as luzes das mais glamorosas casas de espectáculos."

"A estrela artística goza hoje do pretérito estatuto dos reis absolutos. O que disseram. Para onde olharam. O que comeram... tudo é casculhado e repetido num discurso arrebatado. Num encontro de ténis organizado em Portugal há algum tempo e no qual compareceram alguns dos grandes nomes internacionais desta modalidade, duas das participantes-estrelas resolveram entreter o tempo duma viagem de automóvel - efectuada numa vistosa viatura com um não menos vistoso motorista - organizando um concurso em que cada uma delas procurava produzir sons e cheiros mais intensos do que a outra. Extraordinariamente, histórias como esta fazem rir mas a ninguém ocorre que, no mínimo, o motorista as devia ter largado ali mesmo."

Pois, mas é que há cultura e Kultura:

"Filósofos, cientistas, escritores, investigadores, economistas atravessam este país de lés a lés para irem falar sobre os mais remotos assuntos a convite de associações, autarquias, bibliotecas, escolas. Vão e vêm discretamente e à borla na maior parte dos casos. Quem convidaria de forma tão displicente a mais desconhecida das bandas?"

Lido no Espaço Público de Helena de Matos no Público de hoje.


Pois é! Se é de borla é reles!

Ser de borla ou barato desvaloriza. Tudo. Comecem a oferecer Ferraris e a fazer pagar fortunas pelos Opel Corsa e vão ver.
É claro que no caso de Ferraris e Corsas, as diferenças de qualidade são percebidas por qualquer grunho, enquanto que, ainda que as distingam (e todos cultivam sinceros, genuínos, ódios e desprezos pela cultura), diferenças entre cultura e Kultura não há grunho que as entenda. E se uns se fazem pagar caro, enquanto outros se oferecem...
Os grunhos sabem o que pensar sobre quem muito se oferece!

Ah, pois! As bibliotecas também são de borla...

Será que ninguém percebe os efeitos perversos destes "empenhamentos" e "boas vontades", quer pessoais (os tais filósofos, cientistas, investigadores, etc.) quer institucionais - com as bibliotecas públicas à cabeça?


José Barbosa

A LER - no diário de notícias de hoje

E noite inventou-se assim

Difícil lembrar um tempo em que sair à noite não era normal, em que a noite era reduto de facas e ligas e os bares se contavam pelos dedos de uma mão, sitiados por "gente esquisita" de cristas pós-punk, trajes negro absoluto e poses trágicas. A epopeia nocturna dos anos 80, de Lisboa e do Bairro Alto, do Frágil, da Rock House e do Trumps, revisitados no dia em que os New Order, sobreviventes dos Joy Division - a banda-culto da década -, tocaram em Portugal pela primeira vez.


Afinidades electivas

Trocavam-se discos e cassetes, receitas de sabão e açúcar para manter o cabelo em pé, moradas de lojas de segunda mão, desenhos de roupa - sempre em preto -, selavam-se amizades por uma canção. E saía-se à noite. Todos os dias.

Bora todos mentir!

"Durão Barroso mentiu ao eleitorado. Toda a gente sabia ao que tinham chegado as finanças do Estado..."

"Mas Barroso não hesitou um minuto em prometer o "choque fiscal", ou seja, uma drástica redução de impostos, que deliberadamente se destinava a enganar o país."

Quando foi eleito, inventou o melodrama da "tanga" e, em vez do "choque fiscal", aplicou, com pouco escândalo e nenhuma resistência o choque Ferreira Leite."

"Na última campanha eleitoral, Sócrates repetiu a façanha."

"...jurou solenemente duas vezes que não ia aumentar os impostos."

"Agiu com dolo e, como Barroso, logo que se viu seguro, inventou outro melodrama, o da "surpresa", para fazer exactamente o contrário do que dissera."

"Parece que o herói mentiroso entrou em cena para ficar."

"O problema da mentira política não é tanto ela própria, como reconhecimento quase oficial de que é um método legítimo de trabalho."

"A mentira ganhou direito de cidade."

"Os políticos mentem e o bom povo aguenta, como lhe compete."

"Não existe hoje em Portugal uma nação. Existem 10 milhões de portugueses, que tratam de si, com ódio ao Estado e uma indiferença profunda pelo seu destino comum."


Lido em Vasco Pulido Valente
Público, 28 de Maio de 2005

Monday, May 23, 2005

Morreu filósofo francês Paul Ricoeur

Paul Ricoeur
(1913-2005)





Paul Ricoeur é um dos mais importantes filósofos da segunda metade do século XX. Estabeleceu uma ligação entre a fenomenologia e a análise contemporânea da linguagem através da teoria da metáfora, do mito e do modelo científico.

Um dos grandes pensadores franceses do pós-guerra, morreu sexta-feira na sua casa em Paris aos 92 anos.

Nascido em 1913 em Valence, sudeste de França, Paul Ricoeur foi prisioneiro durante a II Guerra Mundial e mais tarde foi professor na universidade de Sorbonne, em Paris.
Ricoeur passou ainda pelas universidades de Louvaina, na Bélgica, e Yale, nos Estados Unidos, onde fez uma importante obra de filosofia política.
O filósofo opunha-se a todos os totalitarismos, à guerra da Argélia (1954-1962) e à da Bósnia em 1992, e escreveu obras como "Histoire et Verité" (1955), "Soi-même comme un autre" (1990), e "La Memoire, l+histoire, l'oubli" (2000).
Ricoeur participou em grandes debates do pós-guerra sobre a linguística, a psicanálise, o estruturalismo e a hermenêutica, com um interesse particular pelos textos sagrados do cristianismo.

Militante socialista desde 1933 e profundamente cristão, Paul Ricoeur publicou a sua última obra "L'Hermenéutique biblique" em 2001.
"Da metafísica à moral", "Nas Fronteiras da Filosofia", "Critique et la Convition", "Ideologia e utopia" e "Penser la Biblie" são algumas das obras de Ricoeur editadas em Portugal.

Saturday, May 21, 2005

AMAZÓNIA

A malta continua alegremente a comer o planeta! VIVA O BRASIL!!!! VIVA A AMÉRICA!!!! VIVA A RAPAZIADA DO "PAPEL"!!!!



Estimativas de devastação da Amazônia para o período 2003-2004 ficaram em 26.130 km2, aumento de 6,23%

Desmatamento é o 2º mais alto da história
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A estimativa de desmatamento na Amazônia para o período 2003-2004 ficou em 26.130 km2, o que representa um crescimento de 6,23% em relação ao consolidado anterior. É o segundo maior número desde que o monitoramento começou a ser feito, em 1988. Fica atrás apenas do período 1994-1995, quando foram devastados 29.059 km2.
A taxa de crescimento do último biênio também é bem maior do que a expectativa do governo, que estava em 2%. Segundo os dados divulgados ontem pelo Ministério do Meio Ambiente, a área devastada supera, inclusive, o período 2002-2003, até então o segundo maior da série histórica.
Ao divulgar a área confirmada de 2002-2003, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) também anunciou uma alta: passou da estimativa de 23.750 km2 para os 24.597 km2.
Chamando o último aumento da área desflorestada da Amazônia de "indesejável", a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) citou o crescimento econômico de 2004 como um dos fatores que ajudam a impulsionar o problema e disse que as medidas do Plano de Controle e Prevenção ao Desmatamento, adotado no ano passado, ainda não começaram a ser percebidas integralmente.
Dos oito Estados monitorados, seis apresentaram queda na taxa de desmatamento. Apenas Mato Grosso e Rondônia continuam com o índice subindo. A expansão da área agrícola, principalmente soja, ainda é um dos fatores que contribuem para a alta. O município com maior aumento de devastação de área, em número absoluto, foi Aripuanã (MT).
"Não queremos justificar o número, que ainda continua alto. Queremos que ele caia. Mas houve o crescimento econômico de 5% e não podemos esquecer que a taxa de aumento do desmatamento chegou a 27% [em 2001-2002, comparado ao anterior]", disse Marina, após quase seis horas de reunião com técnicos e os colegas Ciro Gomes (Integração Nacional) e Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) para apresentar o balanço, fechado na véspera pelo Inpe.
"O que importa é que o crescimento é sistemático quando deveria ser declinante, porque há menos floresta para derrubar", disse o economista ambiental Carlos Young, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Pelos cálculos preliminares do Inpe, a devastação da Amazônia já atinge uma área de aproximadamente 680 mil km2, o que é maior, por exemplo, que os territórios da França e de Portugal. Representa cerca de 18% do total da área de floresta monitorado por meio das imagens de satélite. Por outro lado, o estoque de floresta primária ainda em pé é de 82% na região.

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Comparações
O ministro Ciro Gomes comparou o ritmo de desflorestamento à velocidade de um carro. "Estamos inquietos com o número estimado, entretanto temos de ter clareza da questão. Tínhamos um carro correndo a 27 km/h e precisamos reduzir. Isso não se faz do dia para a noite. Chegamos a 6 km/h e continuamos nos esforçando."
Ciro Gomes também lembrou que o Inpe ampliou o número de imagens usadas para aumentar a precisão -de 75 para 103.
Marina lembrou a série de ações que o governo vem adotando no plano de controle e os resultados obtidos, como aumento nas infrações cadastradas, maior apreensão de madeira ilegal e instalação das bases de operação do Ibama em conjunto com Polícia Federal, Rodoviária, Exército e Ministério do Trabalho. Ao citar o novo sistema para tornar disponíveis imagens on-line, o chamado Deter, Marina disse que essa é uma ação para integrar a sociedade. "Não podemos cantar em verso e prosa a preservação da Amazônia se não criarmos também uma cultura de preservação."
Para Nurit Bensusan, coordenadora de políticas públicas da ONG WWF-Brasil, os dados não surpreenderam e já demonstram a ineficácia do novo plano de combate ao desmatamento engendrado pelo governo. "O que ficou mais claro é a total ineficiência do plano. Essa coisa de grupo interministerial, nada funcionou", disse. Para Bensusan, há uma disputa dentro do governo, com políticas contraditórias, "e, até agora, está claro que o MMA está perdendo. Nas ações que o ministério pode fazer sozinho, está se saindo bem, mas isso não está sendo suficiente".





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Nelson Oliver

Ano: 1988. Resolvemos fazer uma viagem à Amazônia. Eu e dois amigos, em plena época das queimadas. Fomos ver de perto, sentir, auscultar o coração ameaçado da floresta.

Valha-me Deus! Nos três mil e quinhentos quilômetros percorridos a partir de Mato Grosso do Sul, destruição só, fumaça só, um fogo só. Uma tristeza só.

Chegando lá, fomos ver in loco o "processo" adotado pelas madeireiras na derrubada da floresta, ali bem no nariz de Brasília. Tem-se que ter estômago! E tem-se que ter uma fortaleza íntima daquelas, porque dói a alma, dói a esperança, dói o futuro do homem. Ali, bem no nariz de Brasília.

É algo abominável o que faz o senhor das serrarias. As árvores nobres, as disputadas, as de valor comercial como o cedro-rosa, a cerejeira, o mogno e o freijó, essas encontram-se exemplares dispersos, a muitas dezenas ou centenas de metros umas das outras. Para chegar até elas, uma máquina monstruosa, gigantesca, que os nativos chamam de esquide vai levando tudo pela frente, de roldão, numa espécie de terremoto avassalador. Destrói dez, cem, duzentos espécimens que nada têm a ver com a história, vai rasgando tudo até a boca da noite. Rasga pisa, dilacera, extermina animais. E então, de repente, em lamento comovedor, vê-se tombar um mogno de oitocentos anos, e se ele não está de acordo com os padrões internacionais, o madeireiro o deixa ali, apodrecendo para a posteridade ou para se diluir no fogo que vem. Ali, bem no nariz de Brasília.

Depois é a vez da cerejeira coitada. Já viram uma cerejeira de 300,400,500 anos? Linda, linda! Pois é, neste rasga coração vai o ipê-rosa, o cumaru-ferro, a andiroba e outras, que vão ficar ali deitadas para sempre, ou vão virar cinzas, como as outras, ou servir de pasto para os cupins. E esses madeireiros já fizeram o mesmo no Espírito Santo, Bahia, Paraná e por aí afora, são as mesmas companhias nômades em eterno deslocamento avassalador. Exterminaram naqueles estados o jacarandá, a araucária e dezenas de espécies insubstituíveis com financiamento pelo BNDES. Ali, bem no nariz de Brasília, os pais de imensos desertos.

Durante a viagem de ida, que durou dois dias, contamos uma média de dois caminhões carregados de madeira a cada quilômetro, religiosamente. Isso, dia e noite, noite e dia, em interminavel cortejo draconiano. Entre ida e volta, aproximadamente 14.000 caminhões escoando vida, vida, vida que se vai do país, que se vai do planeta, o grosso exportada para os EUA, Japão e MCE, aqueles que são nossos credores, que nos apontam o dedo acusador, que se arvoram em defensores do bem comum, que gritam contra a destruição da Amazônia.

O que mais assusta é que passaram-se onze anos e o processo continua o mesmo. O contrabando de mogno continua via Japão, EUA e sabe Deus mais o quê. Entra, sai Presidente...

Fico pensando no que será do planeta, da humanidade, sem essas árvores cuja função primordial é prover o prana que nos mantém vivos e nos assegura o equilíbrio mental.

Mas será que adianta falar de caminhões e mais caminhões, navios e mais navios abrindo intermináveis buracos no futuro de um planeta? Adianta dizer que a tragédia continua irretocável, ali, bem no nariz de Brasília?

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Thursday, May 19, 2005

Fim das estrelas



Chega ao fim a saga galáctica na qual George Lucas trabalha desde que escreveu um primeiro rascunho em 1973.
Com a estreia, hoje, de Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith, termina a mais bem sucedida saga da história do cinema.

A saga gerou merchandise, edições em vários formatos, jogos de computador. E, de uma ou outra forma, vai continuar...

deixamos aqui o link da página oficial:

http://www.starwars.com

Monday, May 09, 2005

Sites de imagens

Aqui fica a sugestão de um link para uma página em inglês, com imagens giras, etiquetas, listas de compras, etc., com possibilidade de download.

http://www.countryclipart.com/welcome.htm

Ao entrar na página, seleccione Site Map (mapa do site) na coluna da esquerda e procure Free Online Printables. Aí, clique na opção pretendida.

Ensino Superior

Guia do estudante
clique aqui: www.guiadoestudante.pt

Informações sobre o ensino superior, pós-graduações, mestrados e doutoramentos, aqui: http://guiadoestudante.clix.pt/ge-PGMD.asp

Legislação:
http://guiadoestudante.clix.pt/ge-leis_n.asp

Diplomas fundamentais:
http://guiadoestudante.clix.pt/ge-leis_n.asp#assunto1

Acção social escolar:
http://guiadoestudante.clix.pt/ge-leis_n.asp#assunto9

Alojamento:
http://guiadoestudante.clix.pt/ge-area_geo.asp

Descobrir o Brasil

Para descobrir o Brasil: Affonso Romano de Sant'Anna

Outro texto de Affonso Romano de Sant'Anna


A Mulher Madura

O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos.De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé.Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.A adolescente, com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas. E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito.A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa.Sei que falo de uma certa mulher madura localizada numa classe social, e os mais politizados têm que ter condescendência e me entender. A maturidade também vem à mulher pobre, mas vem com tal violência que o verde se perverte e sobre os casebres e corpos tudo se reveste de uma marrom tristeza.Na verdade, talvez a mulher madura não se saiba assim inteira ante seu olho interior. Talvez a sua aura se inscreva melhor no olho exterior, que a maturidade é também algo que o outro nos confere, complementarmente. Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos revelador.Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo.A mulher madura está pronta para algo definitivo.Merece, por exemplo, sentar-se naquela praça de Siena à tarde acompanhando com o complacente olhar o vôo das andorinhas e as crianças a brincar. A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Descolou-se da superfície das coisas. Merece profundidades. Por isto, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta jóias. As jóias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo.A mulher madura é um ser luminoso é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes.Sobretudo, o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar.

O texto acima foi extraído do livro "A Mulher Madura", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1986, pág. 09.

Descobrir o Brasil

Para descobrir o Brasil: Affonso Romano de Sant'Anna


Pedro Rolo Duarte, no DNA, apresentou-nos um texto de Affonso Romano de Sant'Anna.


Amor – O Interminável Aprendizado


"Na história universal do amor, amou-se sempre diferentemente,embora parecesse ser sempre o mesmo amor de antigamente."
Criança, ele pensava: amor, coisa que os adultos sabem. Via-os aos pares namorando nos portões enluarados se entrebuscando numa aflição feliz de mãos na folhagem das anáguas. Via-os noivos se comprometendo à luz da sala ante a família, ante as mobílias; via-os casados, um ancorado no corpo do outro, e pensava: amor, coisa-para-depois, um depois-adulto-aprendizado.
Se enganava.
Se enganava porque o aprendizado de amor não tem começo nem é privilégio aos adultos reservado. Sim, o amor é um interminável aprendizado.Por isto se enganava enquanto olhava com os colegas, de dentro dos arbustos do jardim, os casais que nos portões se amavam. Sim, se pesquisavam numa prospecção de veios e grutas, num desdobramento de noturnos mapas seguindo o astrolábio dos luares, mas nem por isto se encontravam. E quando algum amante desaparecia ou se afastava, não era porque estava saciado. Isto aprenderia depois. É que fora buscar outro amor, a busca recomeçara, pois a fome de amor não sabia nunca, como ali já não se saciara.De fato, reparando nos vizinhos, podia observar. Mesmo os casados, atrás da aparente tranqüilidade, continuavam inquietos. Alguns eram mais indiscretos. A vizinha casada deu para namorar. Aquele que era um crente fiel, sempre na igreja, um dia jogou tudo para cima e amigou-se com uma jovem. E a mulher que morava em frente da farmácia, tão doméstica e feliz, de repente fugiu com um boêmio, largando marido e filhos.Então, constatou, de novo se enganara. Os adultos, mesmo os casados, embora pareçam um porto onde as naus já atracaram, os adultos, mesmo os casados, que parecem arbustos cujas raízes já se entrançaram, eles também não sabem, estão no meio da viagem, e só eles sabem quantas tempestades enfrentaram e quantas vezes naufragaram.Depois de folhear um, dez, centenas de corpos avulsos tentando o amor verbalizar, entrou numa biblioteca. Ali estavam as grandes paixões. Os poetas e novelistas deveriam saber das coisas. Julietas se debruçavam apunhaladas sobre o corpo morto dos Romeus, Tristãos e Isoldas tomavam o filtro do amor e ficavam condenados à traição daqueles que mais amavam e sem poderem realizar o amor.O amor se procurava. E se encontrando, desesperava, se afastava, desencontrava.Então, pensou: há o amor, há o desejo e há a paixão.O desejo é assim: quer imediata e pronta realização. É indistinto. Por alguém que, de repente, se ilumina nas taças de uma festa, por alguém que de repente dobra a perna de uma maneira irresistivelmente feminina.Já a paixão é outra coisa. O desejo não é nada pessoal. A paixão é um vendaval. Funde um no outro, é egoísta e, em muitos casos, fatal.O amor soma desejo e paixão, é a arte das artes, é arte final.Mas reparou: amor às vezes coincide com a paixão, às vezes não.Amor às vezes coincide com o desejo, às vezes não.Amor às vezes coincide com o casamento, às vezes não.E mais complicado ainda: amor às vezes coincide com o amor, às vezes não.Absurdo. Como pode o amor não coincidir consigo mesmo?Adolescente amava de um jeito. Adulto amava melhormente de outro. Quando viesse a velhice, como amaria finalmente? Há um amor dos vinte, um amor dos cinqüenta e outro dos oitenta? Coisa de demente.Não era só a estória e as estórias do seu amor. Na história universal do amor, amou-se sempre diferentemente, embora parecesse ser sempre o mesmo amor de antigamente.Estava sempre perplexo. Olhava para os outros, olhava para si mesmo ensimesmado.Não havia jeito. O amor era o mesmo e sempre diferenciado.O amor se aprendia sempre, mas do amor não terminava nunca o aprendizado.Optou por aceitar a sua ignorância.Em matéria de amor, escolar, era um repetente conformado.E na escola do amor declarou-se eternamente matriculado.

Texto extraído do livro "21 Histórias de amor", Francisco Alves Editora – Rio de Janeiro, 2002, pág.11.

Tuesday, May 03, 2005

mapas

Para quem quiser consultar mapas na net


http://www.multimap.com/map/browse.cgi?client=public&ukwidth=289&ukheight=301&scale=%0D%0A2000000&lang=&overviewmap=ES_over&db=ES&g.x=137&g.y=220


www.mappy.com

www.maporama.com/share/

www.viamichelin.com

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Soneto de Shakespeare

As obras de Shakespeare podem ser consultadas em:

http://www.online-literature.com/shakespeare/

Para quem quizer a biblioteca tem a tradução, em português, de Vasco Graça Moura

CXLVIII.

O me, what eyes hath Love put in my head,
Which have no correspondence with true sight!
Or, if they have, where is my judgment fled,
That censures falsely what they see aright?
If that be fair whereon my false eyes dote,
What means the world to say it is not so?
If it be not, then love doth well denote
Love's eye is not so true as all men's 'No.'
How can it? O, how can Love's eye be true,
That is so vex'd with watching and with tears?
No marvel then, though I mistake my view;
The sun itself sees not till heaven clears.
O cunning Love! with tears thou keep'st me blind,
Lest eyes well-seeing thy foul faults should find.